Carregando suas coisas, Jiho buscava andar o mais rápido que suas pernas permitiriam considerando o peso de sua bagagem de mão. Conseguira guardar alguns dos doces que comprara na visita a Hogsmeade, bem como temera que seu malão se movesse em demasia transformando seus livros em um amassado do que haviam sido anteriormente. Os tratava como o que eram, amigos muito queridos e se negara a permitir que tal desastre se aproximasse de seus preciosos. Um sorriso de gratidão se interpôs em seus lábios com a chegada do irmão, não negou-se a entregar sua bagagem de mão a ele, ainda que suspeitasse que Dae se arrependeria posteriormente.

— Nem coloquei tanta coisa dessa vez, temos o vagão restaurante. Aprendi minha lição no ano passado — resmungou Jiho, conforme procuravam por uma cabine vazia. — Aqui — anunciou, apontando para a cabine ao fim do corredor pertencente a corvinal.  — Vai deixar suas coisas em uma das cabines da Sonserina eu te encontro em dez minutos no vagão restaurante — disse, amaldiçoando mentalmente por não terem entrado na mesma casa. Eram em momentos como aquele que tinham de dar um jeito, o vagão restaurante fora uma surpresa agradável após sua primeira viagem sem poder se quer trocar algumas palavras com seu irmão gêmeo. Dae precisaria atualiza-la a respeito dos planos para as férias.  

Arrumou suas coisas rapidamente, soltando um suspiro de alivio ao ver quem adentrava sua cabine. Eve e Brandon. Ainda não haviam dito uma palavra se quer a respeito do que fora mencionado por Zyan, e Jiho não queria ser inconveniente ainda que houvesse ficado mais consciente dos olhares trocados entre os dois amigos.  — Vou ir pro vagão restaurante — anunciou sem dar mais explicações, eles sabiam que ela ia se encontrar com seu irmão gêmeo. Sentando-se em uma das mesas vagões vazias, a corvina se permitiu sorrir para alguns conhecidos até a chegada de Dae.  — Você gosta de algum tipo de viagem? — questionou esboçando um sorriso.

O gêmeo não gostava de vassouras e nem de trens o que fazia com que Jiho sentisse certa pena. O trem tendia a deixa-la com sono, então ela não se incomodava muito com a viagem em si, até a achava rápida.  — Oh não, eu tomei café da manhã. Pode ir em frente — anunciou se lembrando da refeição que fizera antes de buscar suas coisas na sala comunal. — Você gosta de navios com toda aquela movimentação, mas não gosta de trens? Talvez, devesse ter cogitado Durmstrang, sei que o papai não surtaria tanto quanto ele nos fez pensar — anunciou Jiho tentando imaginar Dae nos escuros corredores de Durmstrang, ou no que ela acreditava serem os corredores da escola. Nunca de fato havia estado no local.

— Oh, não. Ainda é cedo para dormir. A mamãe te falou alguma coisa sobre as férias? — questionou curiosa. Preferia ir passar um tempo com o tio-avô, mas não reclamaria se tivesse que ficar em casa. Fazia certo tempo que não o faziam, no fim das contas as férias acabavam sendo passadas viajando por ai. Observando o irmão beber seu chocolate com certa aprovação, Jiho moveu sua cabeça em negativa com as palavras que se seguiram.  — Você acha mesmo que a mamãe vai entender? — perguntou, soltando uma risadinha. Não precisava exteriorizar com que estava pensando para que Dae compreendesse. A mãe deles, muito provavelmente dramatizaria durante todos os dias de férias como Dae não a amava o suficiente.   — Eu queria ir pra casa do tio-avô, tem algumas poções que eu queria a opinião dele — disse fazendo um biquinho.

Os olhos de Jiho se reviraram de forma automática conforme o irmão ofertava os biscoitos a ela. Sabia o quão saborosos eram, mas de fato precisava praticar seu autocontrole em se tratando de doces. Tinha um fraco por eles, e aquele era um de seus maiores defeitos. Talvez um de seus pecados capitais, como os trouxas tendiam a chamar.  — Não, preciso mesmo me controlar com os doces — anunciou em resposta se recostando contra seu banco. Se mantiveram conversando por grande parte do tempo da viagem, até que Jiho desse alguns apagões o trem obtendo o melhor dela. Foi acordada por Dae, que indicava que haviam chegado. Caminhando apressadamente para sua cabine para pegar sua bagagem de mão, Jiho anunciou que o encontraria na estação dali a uns poucos minutos.

“Eu quero ganhar. Não quero ser tratada com igualdade. Em meu coração, eu quero ser melhor que eles. (Holly Black).”



Dae apressou o passo para alcançar a irmã, que já se aproximava da entrada do vagão que ocupariam na volta para casa. — Deixe-me levar isso para você — Anunciou assim que conseguiu alcançá-la e sem esperar por resposta pegou sua mochila e a passou pelo braço livro. Ji Ho tinha a péssima mania de levar uma quantidade considerável de doces e livros na bagagem de mão, o que sempre a fazia reclamar do peso. Como Dae era mais forte, não se importava em ajudar a irmã, que provavelmente ficaria concorda e com dores sem a ajuda dele.

— Duvido que vá comer tudo que tem aqui durante a viagem — Resmungou baixinho enquanto andava pelos corredores em busca de uma cabine vazia. A maioria das primeiras já estava abarrotada de alunos, eles tinham se atrasado afinal. JiHo conseguiu encontrar uma cabine para si e o irmão a deixou arrumando suas coisas antes de seguir para o próprio vagão em busca de um lugar. Ele não ficaria na cabine, mas não pretendia sair pelo trem carregando sua mala como um saco maltrapilho e foi justamente isso que o fez escolher uma das cabines destinadas ao quarto ano, já ocupada por outros dois estudantes.

Sem pressa Dae guardou sua bagagem no compartimento de cima, cumprimentou os colegas e saiu do lugar em direção ao vagão restaurante, onde a irmã já o aguardava sentada em uma das mesas. Dae deslizou para o assento em frente a ela e soltou um suspiro de contentamento por finalmente poder relaxar. — Odeio viagens de trem — Confessou em voz alta antes de puxar o cardápio para poder selecionar uma bebida quente. — E não entendo como outros alunos gostam — Complementou, passando o olhar por entre as fileiras de bebidas antes de optar por um chocolate quente. — Vai querer alguma coisa? Vou pedir um chocolate para mim e algumas rosquinhas, estou com fome porque não tomei café da manhã.

Com a recusa de Jiho, Dae chamou um dos atendentes e fez seu pedido antes de respondê-la. — Acho que gosto de viajar de navio — Respondeu pensativo. Nunca tinha entrado em um avião e tinha certeza de que se entrasse não gostaria. — E certamente vou gostar de aprender a aparatar já que também adoro viagens com pó de flu também — Explicou risonho. — Já vai dormir? Se quiser cochilar posso acordá-la quando chegarmos.

Dae nunca tinha cogitado Durmstrang como uma opção, achava os costumes um tanto bárbaros demais para ele. Era uma criança gentil demais, altruísta demais, gostava de regras, mas gostava de liberdade também, jamais conseguiria entrar em uma escola que não equilibrasse tudo isso. — Não me imagino em outra escola de magia que não Hogwarts — Constatou por fim antes de agradecer ao garçom pelo pedido que já colocara na mesa. Sem delongas, virou a caneca de chocolate e deixou que aquecesse o estomago antes de continuar, satisfeito por finalmente colocar algo para dentro da barriga.

— Eu esqueci de responder as últimas cartas, então acho que fui banido dos planos para as férias — Respondeu corando. A mãe tinha lhe enviado duas missivas extensas de perguntas, mas Dae tinha se distraído em todas as vezes que tentara lhe responder e no fim não tinha lhe retornado nenhuma vez. — Mamãe não deve estar muito contente comigo, mas talvez me perdoe se eu explicar todas as nuances que me levaram a esquecer suas cartas...

— Nós sempre vamos para lá por alguns dias, então dessa vez não será diferente — Dae murmurou antes de pegar um dos bolinhos açucarados e dar uma mordida generosa. O doce se espalhou por sua língua, o fazendo soltar um gemido de aprovação. — Vou sentir falta disso quando me formar, dos bolinhos não do trem — Explicou risonho antes de dar outra mordida. — Tem certeza de que não quer um?

Ela precisava mesmo, ou certamente poderia adquirir diabetes – embora essa não fosse uma doença para bruxos. — Sem dúvidas iria melhorar seu sono, ele está deveras ruim ultimamente — O garoto sorriu, exibindo os dentes cobertos de açúcar antes de terminar seu café em um silencio confortável.

Os gêmeos tiveram uma viagem tranquila, trocaram algumas palavras e descansaram durante o curto passeio de trem. Ji Ho chegou a cochilar uma boa parte do trajeto, deixando Dae sozinho para observar a movimentação e a paisagem. Quando chegaram a estação, o Sonserino despertou a irmã para que ela pudesse ir buscar seus pertences e seguiu sozinho para fazer o mesmo antes de poder encontrá-la novamente do lado de fora.