Mary estava contente em ter Melinda como companhia. Após a mãe de Melinda anunciar que havia nascido de pais trouxas e que seu marido era um trouxa, os pais de Mary embolaram em um assunto tão adulto que a menina sentia sono só de ouvir. Felizmente aquilo serviria para Oliver e Heloise descobrirem como lidar melhor com aquela situação. A primeiranista era muito grata a Madeline por tudo o que havia feito, mas a bruxa não tinha contato com trouxas, não sabia ser empática com os medos que os pais de Mary realmente sentia.
 
E Mary também.
 
— Deve ser muito bem ter uma mãe bruxa. – Afirmou Mary enquanto ambos seguiam para o que a menina pensava ser o três de embarque. — Eu não sabia que era bruxa até duas semanas atrás. Meus pais estão loucos com isso.
 
— Sei como é! – Respondeu Melinda. — Minha mãe só contou pro meu pai que era bruxa quando ficou grávida de mim. Cresci ouvindo as preces do meu pai para que fosse normal. Ai com nove anos fiz o cabelo dele ficar rosa em um acesso de raiva. – Ambas riram.
 
— Eu coloquei fogo na dentadura da minha avó. – Afirmou Mary rindo também. — Eu odiava aquela dentadura, tinha muito medo. Ai, ela me ameaçou jogar a dentadura em cima, gritei e então ela pegou fogo. Não ficou ninguém da minha família na casa, correu todo mundo. – As duas começaram a gargalhar.
 
Todos seguiam a bruxa Annie, porque ela era a única que sabia qual era o expresso para Hogwarts. No entanto, todos ficaram parados quando a mulher chegou a frente a uma parede de tijolos que ficava entre as plataformas 3 e 4.
 
— É aqui a barreira! – Anunciou ela. — É só atravessarmos.
 
— Mas... – Começou a gaguejar Joseph e os pais de Mary pareciam nervosos por igual. — Não usamos magia.
 
— A magia não é burra. – Falou a bruxa calmamente. — É comum pais não-majs terem filhos trouxas e esses precisam levar os filhos em lugares de bruxos. Vocês não foram para o Beco Diagonal? É um lugar somente de bruxos, então teoricamente vocês não poderiam entrar. Não enxergaram o Caldeirão Furado? – E diante daquilo todos começaram a concordar. — Eu vou na frente com Joseph e Melinda, vocês apenas me imitem.
 
A bruxa deu os braços para o marido tão firme a ponto dele não fugir, segurou o carrinho de malas da filha e começou a correr para a parede. Mary e seus pais fecharam os olhos quando os mesmos iriam colidir com a parede, mas quando abriram não havia ninguém ali.
 
— Esse mundo vai me matar um dia. – Anunciou Oliver colocando a mão no coração. — Querida, vamos tentar?
 
— Aham! – Respondeu Mary sem coragem de admitir que estava morrendo de medo, desesperada. Ela imaginava o mico que pagaria voando com malas, gaiola e coruja para todos os lados. Quando sentiu sua mãe com as mãos geladas lhe segurando pelo pulso e o pai do outro lado, a menina fechou os olhos. As suas pernas andavam sozinha. Os três deram um impulso no corpo correndo e a menina só abriu os olhos quando ouviu um suspiro dos seus pais. — Eu estou toda quebrada? – Perguntou ela tateando o corpinho.
 
Quando abriu os olhos, sua boca se abriu junto.
 
Parecia estar em outro mundo. Havia um trem com o letreiro “Expresso de Hogwarts” bem grande em vermelho e na plataforma milhares de crianças, gaiolas, animais e pessoas conversavam. Corujas sobrevoavam o alto do trem, crianças se despediam dos pais.
 
— Está quase na hora do expresso deixar a estação. – Anunciou Anne que tirou um relógio muito estranho do bolso. O mesmo não tinha números, eram símbolos que Mary não conseguia entender. — Amor, vem cá. – Chamou a bruxa pela filha.
 
Enquanto o casal se despedia da filha, Oliver e Heloise ajudaram Mary a subir as malas no trem e na volta a mãe já estava com os olhos marejados. Ela abraçou Mary tão forte, que a bruxa pensou que morreria de falta de ar. Em seguida foi o seu pai que a pegou no colo na frente de todo mundo, atraindo olhares de outras crianças para ela. Ela realmente sentiria muito a falta dos dois durante aqueles meses, mas o seu consolo era os seus irmãos que ainda fariam companhia para os pais.
 
— Compramos uma coruja para você mandar cartas toda semana. – Anunciou o pai. — Não esqueça que nós amamos muito você. – Ele a colocou no chão. — Estamos muito orgulhosos de você.
 
— Querida, estude muito. – Falou a mãe finalmente abriu a sua bolsa e retirando a varinha da menina. — Estou confiando esse objeto estranho pra você, não me faça me arrepender. – Beijou Mary novamente.
 
Na porta do embarque Melinda acenava para Mary a seguir. Quando a bruxinha decidiu entrar no trem, não olhou mais para atrás. Sabia que era tão difícil para os seus pais quanto era para ela. Assim que subiu na porta e entregou o bilhete para o guarda, duas lágrimas desceram dos seus olhos.
 
— Ei – Falou Melinda. — Não fique com medo. Vamos nos divertir muito esse ano e o tempo vai passar rapidinho, você vai ver. – Mas, Mary percebia que a garota parecia se controlar para não chorar. Passaram pelo vão da porta e entraram de vez no expresso rumo ao desconhecido. Ambas, as bruxas que não sabiam o que as esperavam em Hogwarts.