O elevador se abriu, deixando passagem livre para que Breeze pudesse seguir em frente. Alguns olhares foram inevitáveis em sua direção e, logo após isso, diversos cumprimentos de bom dia. Educada, Bott respondeu a cada um deles sem dar muita atenção de fato a quem os havia lançado, seguindo de maneira ritmada para a sala de controle e mapeamento de investigações – Bom dia, senhores – cumprimentou ao adentrar o recinto, fechando a porta atrás de si no momento em que a atravessou. Os envolvidos a cumprimentaram, logo oferecendo água e assento – sendo este último o único aceito. Ela, por sua vez, não precisou falar nada, pois os demais funcionários começavam a explanar sobre os últimos avanços – que, na verdade, não haviam sido nada demais – Ok. Continuem pesquisando a fundo sobre a isso, pois sabemos bem que tudo está muito encaixadinho demais para ser verdade. Johnson, vá até o nível sete e notifique pessoalmente o chefe da divisão de controle de anormalidades mágicas, pois uma cadeira que se abana com certeza tem um fundo mágico – nisso, a mulher se levanta, pronta para encerrar sua participação nesse momento – Petzhold, na minha sala, por favor – falou em direção a um dos funcionários sênior do setor e se virou, justamente indo em direção ao seu escritório.

Poucos passos depois, se sentou atrás da grande escrivaninha que lhe pertencia, observando o homem alto também repetir o gesto a sua frente. Quando o mesmo fixou o olhar no nela, foi o momento que iniciou sua fala – E então, qual o progresso da investigação sobre o Dente-de-víbora peruano no Grand Canyon? – seu semblante era fechado, ao contrário do homem, que visivelmente estava cansado. Mesmo assim, Petzhold falava com firmeza sobre como o dragão encontrado estava se comportando, qual caminho traçava e se havia algum indício de seu ovo furtado. Breeze ouvia atentamente cada sílaba pronunciada, mas sua mente não estava exatamente ali. Na verdade, ela sabia muito bem onde o ovo estava e quanto a venda dele havia valido. O único problema foi que o dragão havia chamado a atenção de algum bruxo viajante que reportou o caso para o MACUSA e este, por sua vez, investigava mais a fundo. Stormi, irmã do meio da mulher, já sabia sobre o dragão no Grand Canyon fazia tempo graças as suas fontes, e Rainy, a caçula, havia feito o furto do ovo tão raro o quanto antes. Fora um sucesso, é claro, até porque já não era mais uma responsabilidade de nenhuma das três, mas o dragão agitado atrapalhou um pouco os planos das mulheres. Agora Breeze, como chefe do departamento de investigações, precisava se assegurar de que Rainy não havia deixado nenhum rastro sequer. Não acreditava que a irmã tenha sido desleixada com os anos de prática que tinha, mas todo cuidado era pouco, principalmente nesse mercado tão negro quanto o que mexiam por detrás dos panos. Felizmente, segundo o que Petzhold relatava, as investigações não haviam sido profundas o suficiente para que o nome de Rainy ou de qualquer pessoa tenha sido sequer citado – Então existe a probabilidade de que o dragão não tenha verdadeiramente botado o ovo e esteja em uma espécie de depressão? Uma gravidez psicológica? Não sei como seria o termo para criaturas que botam ovos – ela declarou, atenta as informações que tinha na mão, ganhando uma positiva de seu subordinado. Por dentro, sentiu um peso de alivio se esvair de suas costas, pois tudo aparentava estar bem, mas sabia que precisava terminar logo com isso. Por fora, continuou da mesma forma, apenas agora, pegando em sua pena e escrevendo algumas coisas – Então prossiga com o envio da criatura para o Peru afim de que seja melhor preservada já que é nativa de lá. Ou veja qualquer outra reserva que aceite um dragão desse porte. Quero que livre o mais rápido possível todos os casos de grau leve, ou jogue-os para os mais novos do departamento. Quero meus experts atentos para as novas demandas que irão surgir daqui alguns dias. Os ingleses estão prontos para ferrar com a gente a qualquer momento – nisso, ela assina o pergaminho e o entrega para o homem, que entende o recado e se levanta para sair dali. Somente quando ele fecha a porta, que a mulher a sela com magia e pode, finalmente, respirar aliviada, pois seus planos ainda continuavam intactos – bem como a pele de suas irmãs. [...] Saiu dali.

Bott seguia concentrada na análise de uma quantidade considerável de documentos acima de sua mesa quando sua atenção fora tomada por uma carta que chegava. Ela não se movimentou até ver a carta pousando bem diante de si e suspirou fundo, um tanto quanto irritada. O remetente se tratava do próprio Congresso Mágico e ela já sabia sobre o que era. A tal da votação para o Ensino de Combate em Ilvermorny. Breeze se reclinou sobre a confortável cadeira de sua sala e pegou o documento, abrindo-o sem pressa. Oras, não havia motivo algum para que essa proposta não fosse aceita, afinal, técnicas de combate eram sempre úteis e nunca se sabe quando se poderia precisar delas. A mulher pensava em sua própria filha, nesse instante, Lorie, que já estava em Ilvermorny e estudando alguma coisa chata, provavelmente. Ela mesmo já havia ensinado algumas coisas para a filha e com certeza Rainy e Stormi (principalmente a pervertida Stormi) já deveriam ter orientado alguma coisa nesse sentido. Pelo menos Harvey não poderia opinar dessa vez e, se dependesse de Breeze, ele não saberia disso – o que, ela sabia, seria impossível por se tratar de um grande feito na comunidade bruxa americana. A mulher por sua vez, pegava a pena para concordar com a inclusão da disciplina na grade da escola de magia alegando que a preparação para os perigos do mundo bruxo nunca eram demasiados e que poderia servir como incentivo para que os futuros bruxinhos se interessassem pela área da segurança, desejando juntar-se aos aurores em um futuro próximo para defender a comunidade como um todo. Ela riu ao finalizar seu argumento, pensando que, na verdade, não estava nem aí para a proteção dos bruxos. Seria glorioso a quebra do sigilo e finalmente ter a possibilidade de mostrar quem é que mandava no mundo. Os não-majs não possuíam muito para oferecer além de mão de obra barata, então por qual razão não seria bom o fato dos bruxos poderem viver como líderes do planeta? A vingança de Salém um dia viria com certeza, mas Breeze sabia que não seria hoje. Até porque Blackwell era uma tola com seu comportamento pacifista, mas não vinha ao caso agora. Com um aceno da varinha, a carta se fechou e foi enviada para onde deveria ir e agora Breeze poderia continuar focada no trabalho.

Aliás, o que levou a ideia dessa votação é justamente o que ela estava investigando agora. O tal do folheto dos purgadores. Sinceramente, era uma idiotice essa história. Como as pessoas hoje conseguiam apoiar purgantes para a liberdade mágica? A história conta que purgantes disseminaram o ódio contra os bruxos, o que era totalmente contra o ideal da quebra do sigilo mágico. Não fazia o menor sentido apoiar uma coisa dessa. Lentamente os folhetos conseguiam ser recuperados e traziam consigo poucos rastros do possível grupo responsável por isso. Breeze não se espantaria caso fosse uma grande pegadinha que conseguiu assustar o Congresso, mas também não acharia o fim do mundo caso realmente existissem doidos assim. De toda forma, o que ela tinha em mãos não passavam de especulações, até porque a junta auror não conseguia se dedicar muito para ajudar com isso devido as manifestações pelo país. Seu departamento seguia atento ao que quer que fosse e tinham ideia de alguns mercenários já conhecidos no setor que poderiam sim conhecer ou até mesmo serem os autores dessa palhaçada. Aliás, Breeze estava esperando que um de seus encarregados voltasse o mais depressa possível com um desses para que pudessem interroga-lo de acordo com pistas achadas em um dos folhetos em Nova Iorque. Sinceramente, Bott só esperava que a idiota de sua irmã Stormi não tivesse se envolvido nisso somente pelos louros de derramamento de sangue pelos purgantes.