Aislinn estava sentada no banquinho da penteadeira encarando o próprio reflexo, a maquiagem recém feita faltando apenas o batom que já estava pronto para ser passado enquanto a jovem Phoenix deixava os pensamentos voarem, havia acabado de voltar de um momento de rebeldia, onde mal terminada Hogwarts e saiu a se aventurar pela Europa, acabou passando alguns anos fora, se recusando a dar notícias, bem rebelde sem causa mesmo... Riu de si mesma enquanto pegava o batom delineando os lábios cheios com a cor que sempre parece mais forte na embalagem do que em contato com a pele. Levando as mãos de dedos finos aos cabelos loiros a garota puxou algumas mexas deixando o coque mais frouxe com um ar mais rebelde e informal, era um casamento na praia, não haveria de ter problemas certo? Borrifou algumas vezes o perfume francês que gostava de usar em dias de sol com notas cítricas e sorriu encarando o scarpin de salto fino nos pés. "O salto vai ser tirado dentro de pouco tempo, obvio ou com toda a certeza? Espera eu tô falando comigo mesma? Essa viagem não havia me feito bem!" Quase gargalhei com a voz da compreensão em minha mente concordando com tudo que ela dizia enquanto pegava o terninho do conjunto, ajeitando por cima do ombro me dirigindo a área do casamento. Tudo que eu não queria era chamar atenção, se tivesse que entrar escondida entraria.

"Será que alguém sabia que eu tinha voltado?" Foi a pergunta que a vozinha irritante insistia em fazer enquanto caminhava pela areia em direção ao local da cerimônia, sorri ao ver as pessoas ali tentando ao máximo me esconder e não chamar atenção. A decoração estava impecável e extremamente lindo, o pensamento sobre ter sentindo vontade de casar fez Aislinn sufocar uma gargalhada, talvez aquilo não fosse para ela. Alguns convidados já se faziam presentes, sorriu para alguns e seguiu reto seu caminho até uma mesa com bebidas, sim a loira necessitava beber algo, porque para a Phoenix viajar era fácil, agora interagir com outras pessoas era levemente complicado, estressante, frustrante... A lista de adjetivos subia em sua mente como a abertura de um dos filmes da saga Star Wars, letras amarelas num fundo preto... Sorveu um longo gole da taça com champanhe e suspirou fechando os olhos por alguns segundos, deixando as sensações tomarem conta de seu sistema nervoso, o borbulhar do champanhe em contato com a língua, o sol morno na pele pálida, o cheiro da brisa marinha cada um tomando seu lugar dando a entender que a oira estava segura e poderia se acalmar. Reabriu os olhos sorrindo observando o movimento ao seu redor, enquanto procurava um lugar para sentar e assistir.

Com os pensamentos ainda distantes do local onde se encontrava Linn terminou o conteúdo da taça e estava prestes a ir buscar outra coisa não alcoólica quando a voz conhecida do garoto a fez se sobressaltar, olhou em volta com uma leve ruga de preocupação vincada sobre as sobrancelhas e sorriu para Nico pensativa: - Hey campeão, o que faz por aqui? Olha só como você cresceu nem tem tanto tempo assim que eu te vi! Onde estão seus pais? A loira podia pressentir que não iria gostar da resposta, algo no rapaz não estava como de costume, ele parecia abatido e o semblante triste a lembrou de si mesma alguns meses atrás. Respirou fundo tentando não se afogar em lembranças sem sentido e sorriu dando a mão para o garoto para irem para um canto mais afastado: - Vem, precisamos de um lugar mais calmo pra gente conversar...- Andar de salto na areia era infernal e paciência não era um dom de Linn, que parou por um par de segundos tirando o sapato chato demais para a ocasião e sorriu indicando o caminho a beira da água com o garoto.

Caminharam por algum tempo na direção oposta a aglomeração de pessoas até que a Phoenix parou,  sentou-se na areia sem muita cerimônia, era a mesma adolescente de sempre só que com idade demais. Suspirou cruzando as mãos sobre os joelhos flexionados enquanto ponderava o que falar, queria que ele conversasse, dissesse tudo... Mas tinha medo ao mesmo tempo que estava curiosa, não era normal nem do feitio dos amigos deixarem o jovem sozinho ou desacompanhado. Mordiscou o lábio sem graça e sussurrou: - Agora sim a gente pode conversar, sem ninguém sendo curioso por perto. Como estão as coisas?- Encarou o rosto do rapaz, tentando não parecer desesperada por informações.

O desespero do garoto partiu o coração da loira que antes mesmo de fazer qualquer coisa apenas o abraçou de volta, tentando acalentar a dor, sentiu as lágrimas inundarem os olhos enquanto com uma das mãos abria a carta com o brasão ministerial, a cada palavra que saltava do pergaminho mais rápido o coração de Aislinn batia, as coisas não pareciam fazer sentido, como assim mortos? Era uma pegadinha de péssimo gosto? Poderia pensar isso, se não fosse a reação genuína de Nico, nunca tinha visto o garoto devastado daquela forma, ele sempre era tão vivaz e brincalhão e agora tudo que via no jovem era tristeza. Linn engoliu em seco, o nó na garganta a atrapalhava de falar sentindo um sorriso gentil em seu rosto ao ouvir as palavras do pequeno: - Hey, tá tudo bem, eu prometi pra eles que ficaria com você caso algo acontecesse, a gente nunca sabe o que vai acontecer, mas eu vou cumprir minha promessa. Não precisa de todo esse desespero, a mansão é grande o suficiente para abrigar mais uma pessoa, principalmente alguém que é minha responsabilidade.- Assim que disse aquilo em voz alta sentiu o mundo virar de ponta cabeça, mal sabia cuidar de si, agora teria de cuidar de um pré-adolescente.

Aislinn deu uma breve risada nervosa enquanto limpava as lágrimas do próprio rosto, respirando profundamente acalmando os nervos, parecia surreal demais, era quase impossível, quase afinal estava acontecendo, havia perdido o namorado e ganhado um afilhado... Tá certo universo, não da pra discutir com o destino não é mesmo? Afastou-se um pouco do garoto limpando as lágrimas do rosto dele e sussurro: - Agora tá tudo bem, você tem casa, já tem meu sim, eu espero notas exemplares, um comportamento exemplar nem tanto porque eu não era lá a mais certinha da corvinal na minha época, mas tente não se meter em confusões! Vamos respirar um pouco e depois que acha de assaltarmos a cozinha pra comer algo? - Sorriu tentando deixar o clima algumas toneladas mais leve, já pensava em preparar alguns doces ou colocar o próprio Nico com a mão na massa. Seria bom para os dois momentos assim.

A voz embargada do garoto pegou Aislinn desprevenida, mal sabia lidar com seus sentimentos, teria que aprender com urgencia isso, pelo bem dos dois, queria ser uma mãe exemplar para o garoto, a palavra mãe pareceu pesar uma tonelada no pensamento dela, suspirou tentando não ter um ataque na frente do garoto. Meneou a cabeça positivamente com a ideia de irem outra vez e sussurrou: -Vamos amanhã, bem cedo, podemos levar algumas flores e nos despedir de forma adequada, sem olhares curiosos, o que acha?- Sentiu a mão delicada do rapaz fazer cocegas enquanto tracejava o caminho de uma lágrima e retorceu o rosto pensativa por um unico segundo enquanto procurava uma resposta que fizesse sentido para um garoto de 10 quase 11 anos: - Nicomus, as coisas não são como a gente espera, essa dor que você ta sentindo agora, ela vai amenizar, ela vai diminuir até que você mal vai senti-la. Agora seus pais jamais serão esquecidos, lembra sempre de todas as viagens que fizemos, do quanto eles mimavam e amavam você. Porque se você não lembrar eu te lembro garoto! Eu estava lá! - A loira riu em meio as lágrimas, sempre que pensava ter atingido um ponto de equilíbrio parando de chorar as lagrimas vinham outra vez a fazendo soluçar.

Secou o rosto com as costas das mãos e suspirou, era bom vê-lo animado com o futuro, concordou positivamente e o encarou curiosa sobre o cobertor verde: -Nico porque verde?- Ergueu-se da areia, batendo a mão sobre as roupas tirando os grãos insistentes que ainda ficaram em suas pernas e sorriu para o menino que finalmente parecia o Nicomus sapeca e brincalhão que a loira conhecia: - Nada de roubar docinhos do casamento alheio. Vamos na cozinha beliscar algo, depois a gente volta pelo menos pra cumprimentar os noivos e comer docinhos o que acha?- A loira piscou para ele como fazia sempre que combinavam algo e apontou o caminho da casa para o rapaz, passar na cozinha, arrumar a maquiagem e parecer levemente descente para um casamento era tudo que a mulher precisava aquela altura do campeonato.

Estava claro, o sol preenchia seu rosto e suas sardas vigorosas. O cheiro leve de vinho e queijo passava sobre as narinas, era forte e azedo ao mesmo tempo e dava uma vontade enorme de torcer o nariz. A praia, entretanto, estava calma e as ondas quase nem existiam, de forma que apenas incrementavam a maravilhosidade do ambiente bem iluminado e recheado de cores vivas. Era um lindo vislumbre, como um quadro renascentista. Magnus lembrou de dar três passos à direita, para se certificar sobre seu sapato social realmente caber em seus pés largos. O clima estava bem decorado, flores silvestres enchiam extensos cestos de palha e as cadeiras de madeira de carvalho estavam dispostas e prontas para uma futura cerimonia que viria após as festividades iniciais. Magnus por algum motivo sentiu uma breve lembrança de seus pais, como será que teria sido o casamento deles? No ato de mirar lado a lado toda aquela ornamentação, um frio repentino tomou seu peito. 

Enfeitado e vestido com um formal traje branco de casamento masculino — um terno —, foi até a área de bebidas com as mãos dentro dos bolsos para poder checar o que aquele lugar poderia oferecer de bom. Tirou a mão esquerda para ajeitar a gravata borboleta, ciente do fato que no fim, já tinha quase dezoito anos. Isso significava que teria que beber hora outra sem precisar esconder de ninguém, nem mesmo de seus pais e então o bar não teria que lhe causar uma sensação de tremor toda vez que encarasse as garrafas cheias e geladas. Felizmente, conseguiu fitar de surpresa uma pessoa conhecida que serviu como uma luva para evitar devaneios desnecessários. Amicia. "Será que consigo dar um susto nela?" Pensou, ponderando a sua localização logo atrás da garota, tentando suficientemente caminhar sem ser percebido para cobrir os olhos dela com ambas as mãos. — Consegue adivinhar quem é? — Firmou suas palmas sobre os olhos da monitora, mas com breve lacunas entre os dedos para que ela tivesse uma mínima chance de conseguir ver alguma coisa para ponderar alguma resposta. Deu um sorriso travesso em seguida.

— Bem, independentemente de quem eu seja, uma coisa eu admito — ele tossiu algumas vezes, não se deixando falhar pela breve timidez natural — você está muito linda! — terminou, enfim tirando as mãos dos olhos da grifina de forma delicada. — Monitora-chefe, é? Hum — Magnus cruzou os braços e partiu para o lado de Amicia, com um rosto orgulhoso, apesar do tom provocativo. — Parece que desde que caímos daquele carro voador ano passado, as coisas não são mais as mesmas, não é... — Como o costume do ruivo era ser bipolar, não se fez diferente ao fazer várias perguntas e oscilar rapidamente entre seus sentimentos, mudando de um largo sorriso anterior para uma faceta criptografada que possivelmente poderia indicar algum nível de tristeza.

Margot e Amicia tinham evoluído absurdamente, e os outros herdeiros... mais ainda. Ele sentia que era o único a ser gradativamente deixado para trás. Isso não era bom, mas aos poucos trabalhava para que não pensasse demais. — Faz um tempo desde que não nos vemos, fico feliz que as coisas estão fluindo em Hogwarts — puxou mais um diálogo, mas pelo desconforto anteriormente citado, se viu na obrigação de furá-lo. — Hã... ainda quer água? — perguntou, com uma risada um pouco tímida e desconcertada, mas fofa.

Ainda não sabia porque seu coração continuava batendo tão rápido. 

Interação com Amicia.