Felizmente os dias após as compras passaram muito rápido para a alegria de Mary. Ela havia rabiscado todos os dias no seu calendário e quando finalmente surgiu a sua última noite antes de ingressar para Hogwarts estava eufórica e animada. Mal conseguiu tocar no jantar especial que sua mãe fez, tudo o que conseguia pensar era nas coisas diferentes que iria descobrir e em finalmente poder colocar as mãos na sua varinha.
 
Após a compra da varinha na loja do Beco Diagonal, seus pais que temia o seu péssimo comportamento guardaram a varinha no armário, trancando á cadeado.
 
— Não confiamos em você com isso. – Diziam eles. Na verdade Mary sabia que eles tinham medo era da magia. Ela nem saberia o que fazer com a varinha. Com a única coisa liberada para ela eram os livros, ela passava as noites lendo, descobrindo que as matérias de Hogwarts na verdade eram muito parecidas com as matérias das escolas comuns, a diferença era que lidava com a magia. — Retirem os pratos, Kath. – Pediu a sua mãe após o último jantar.
 
Naquela noite Mary tentou dormir cedo, mas o seu corpo não cooperou, a fazendo ficar rolando de um lado para o outro. Quando conseguiu finalmente fechar os olhos já estava quase pela manhã. A impressão foi que piscou e o dia amanheceu, resultando na sua cara de sono e bocejos quando deixou o seu quarto.
 
Embora os seus pais não dessem o braço a torcer, estavam nervosos. Teriam a filha quase durante um ano em uma escola desconhecida, aprendendo deus sabe lá o quê. Oliver entrava pela porta com o leite recém colhido e sua mãe assava as panquecas. Mary sentou no seu lugar vestindo apenas o seu pijama de bichinho e ficou ali observando os seus pais conversarem entre si, mas nunca com ela. Eles nem sequer olhavam nos seus olhos. Em alguns momentos sua mãe dava um suspiro longo e sofrido e trocava olhares com o marido que parecia compartilhar do mesmo sentimento.
 
— Vamos reprisar as regras, querida? – Falou o seu pai finalmente dirigindo a palavra á ela.
 
— Não fazer bagunça, mandar uma coruja toda semana. Estudar bastante. – Mary já conhecia de cor as listas de regras que seus pais criaram. — Pedir ajuda se alguma coisa der errado. Não fazer feitiços perigosos. Não brigar. Se eu perceber que tem alguma coisa estranha na escola pedir ajuda imediatamente.
 
— E a mais importante? – Indagou a mãe.
 
— Descobrir onde fica a escola de Hogwarts e relatar para vocês. – Respondeu a menina. — Posso brincar?
 
— Só depois do seu café. – Respondeu o pai.
 
Mary serviu-se de panquecas, ovos e um pouco de bacon. Tomou um copo de leite quentinho e depois que havia terminado todo o desjejum saiu pela porta. A verdade era que a menina não queria brincar de verdade, queria se despedir. Passaria tantos meses longe de casa e dos pais que queria guardar na memória cada lembrança da fazenda. Seu coraçãozinho estava assustado com a distância que teria. E por mais que não fosse muito de chorar, tinha a mesma sensação que sentiu quando foi para a escola pela primeira vez.
 
— Mary? – Gritou a mãe algumas horas depois. — Vem me ajudar a arrumar as malas.
 
— Estou indo! – Respondeu a menina pulando do balanço, lançando um último olhar para o curral e para as galinhas que ciscavam no quintal. Em seguida passou pela porta e seguiu até o seu quarto onde a mãe estava separando as suas roupas. As regras diziam que tudo deveria está etiquetado. Heloise não somente etiquetou como também escreveu o número do seu telefone, o telefone do marido e o telefone de sua mãe nas malas. — Mamãe, acho que bruxos não usam telefones.
 
— Nem os diretores para falar com os pais de alunos que não fazem parte de família de bruxos? – A mãe parecia preocupada. — Pelo sim ou pelo não irei deixar os números ai. Você vai levar o nosso telefone celular reserva?
 
— Mamãe, lembra o que a tia Madeline explicou? – Dizia Mary. — Tecnologia não funciona em Hogwarts. Parece que eles tem proteção contra influências trouxas. – Era ruim quebrar as expectativas de sua mãe, por isso quando a mulher colocou o celular na mala da filha, Mary não tirou, apenas para tranquilizar a mãe.
 
— Vocês ainda estão ai? – Indagou o pai aparecendo de repente na porta. — Já estamos quase no horário de embarque. E temos três horas daqui até Londres.
 
Em poucos minutos desceram as malas de Mary e colocaram no carro. Os três entraram no carro e dirigiram até a estação de Lyon, embarcando para Londres. Desceram em Londres exatamente na estação e então surgiu o primeiro problema: Onde comprar os ingressos? O pai de Mary que preferiu não ter a ajuda de Madeline no embarque para Hogwarts caçou a primeira bilheteria, onde o guarda não fazia ideia do que seria a plataforma 9 ¾ e nem tampouco o que seria Hogwarts.
 
A solução foi perceber e seguir “europeus” estranhos. E naquele dia a estação estavam aos montes deles. A família seguiu um casal relativamente novo que carregavam um malão, uma coruja toda branca e uma menina com os meus olhos brilhantes de Mary.
 
— Com licença. – Falou Heloise que parecia não ter mais medo de interagir com bruxos. — Sabe onde posso comprar o bilhete para a plataforma 9 ¾? – O casal olhou para ela, em seguida para Oliver e Mary, estudando ambos. — É o primeiro ano da nossa filha em Hogwarts e não fazemos ideia de como proceder.
 
— Trouxas? – Indagou a mulher bruxa de cabelos loiros.
 
— Não-Majs. – Corrigiu Oliver. — Preferimos Não-Majs.
 
— Perdão... – A bruxa ficou vermelha como um pimentão, e o marido dela junto. — Não nos entenda mal, eu também nasci de família trouxa e realmente não tenho preconceito. – Ela chegou a gaguejar. — Ela é a bruxinha da família? – Indagou a mulher fitando Mary com sorrisos gentis. — É o primeiro ano de Melinda também. – E apontou para a filha que era tão branca que por pouco não doeria os olhos só de olhar. — Esse é meu marido, Joseph. Eu me chamo Anne. Joseph também é trouxa. – Ela engoliu as palavras. — Digo, não-maj.
 
Naquele momento Mary percebeu que bateu um “imprint” entre o pai e Joseph. Ambos envolvidos no meio bruxo de forma indireta e tendo que conviver com aquelas estranhezas. Todos se apresentaram e seguiram para a bilheteria, onde Mary jamais teria dado atenção. A senhora bilheteira tinha uma voz tão fininha e doce e a sua cabine parecia ser a menor de todas.
 
— É pra não chamar muito a atenção. – Respondeu a bruxa idosa.
 
— Já sabe em que casa vai ficar? – Perguntou a filha do casal, Melinda para Mary. Era a primeira vez que menina ouvia aquelas perguntas e ficou tentando se lembrar se havia lido aquilo antes nos livros. — Mamãe ficou na Corvinal. Ela acha que posso ir pra Corvinal também. Embora eu prefira a Lufa-Lufa.
 
— Porque prefere a Lufa-Lufa? – Indagou Mary.
 
— Porque ninguém coloca muitas expectativas. – Respondeu a menina com sinceridade. Os pais compravam os bilhetes. — Meu pai tem medo de magia, então minha mãe demorou um tempão para contar para ele que era bruxa. Mesmo assim ela evitar tocar na palavra com M perto dela. Ela me explicou muita coisa, mas ainda assim acho que não sou boa o bastante para as outras casas.
 
— Então provavelmente ficarei na Lufa-Lufa também. – Falou Mary. — Eu nem sei fazer magia ainda.
 
— Relaxa, mamãe falou que na Lufa-Lufa teremos as pessoas mais legais de Hogwarts e que é a casa mais alegre. – Aquilo fez Mary se sentir melhor. — Não é a pior casa, sabe? Os lufanos só fazem aquilo que gostam e vivem os melhores da vida sem precisar sofrer pressão para tudo. – Melinda parecia saber muito. — Eu li tudo em Hogwarts, Uma História.
 
— Garotas? – Chamou os pais já com os bilhetes nas mãos. — Vamos?